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30-11-2004

Ter ou nao ter religião


Crónica da América

Este é um tema que muitos julgarão “politicamente incorrecto”.
Falar de política e de religião nem sempre é fácil. No tempo do Salazar havia no clube de futebol da minha pacata parvónia, um dístico na parede, dizendo: “É proibido discutir política ou religião”. E, como era da praxe, ninguém abria o bico “publicamente”, sobre assuntos tão espinhosos.

E aqui, também não é fácil, quando os chamados “valores morais” estão em moda. A religião é uma coisa que os humanos vêm praticando há milénios. Perdido no meio duma natureza inóspita, agressiva, sem conhecer o porquê de si ou do mundo que o rodeava, ele deu-se em criar toda uma cosmogonia de símbolos, mitos e deuses, para explicar o inexplicável. E, baseadas nesses mitos e nesses Deuses se criaram e se extinguiram civilizações e povos. Esses mitos se tornaram em força aglutinadora, explicativa do mistério que a todos assombrava.

Nesse estado emocional, tudo era explicado pelo mistério da fé. A razão, só mais tarde viria a desenvolver-se, juntamente com a observação dos fenómenos naturais, o raciocínio , o estudo da Natureza e do Universo. E foi então que nasceu a rivalidade entre a Fé e a Ciência.

A Fé é a capacidade inata de crer e de aceitar sem discutir, sem duvidar, naquilo que alguém disse e estabeleceu como “verdade”. E nas centenas de religiões criadas à face da terra, cada uma tem a sua verdade. E todas essas “verdades” se contradizem umas às outras.

E tão contrárias e odiosas, que não têm receado de se atirar raivosamente umas contra as outras. Todas defendendo o seu Deus, como o “único verdadeiro”.

Neste preciso momento, vemos em pé de guerra, os crentes de Cristo e de Maomé, batendo-se num conflito sanguinário, permeado de actos de terror, sem respeito pelas leis da guerra prèviamente estabelecidas. Digam o que disserem mas esta é uma guerra religiosa e, ao mesmo tempo, politica e económica.

O terrorismo do Islão, é uma revolta contra o que considera o alastramento do Cristianismo e do Judaismo mercantilista e secular do Ocidente, consubstanciado nos tentáculos dos costumes e da modernidade americana. É a fé islâmica que se julga ameaçada pelo avanço do império da Coca Cola, da Hambúrguer e da liberdade sexual e política da mulher.

E o que dizer dos tais”valores morais” na política americana? Há quem diga que a vitória dos republicanos foi, acima de tudo, uma achega para o ego dos pastores evangélicos dos “estados vermelhos”.

Embriagados com a vitória alguns desses pastores políticos, já vieram a público dizer, que o Presidente tem que respeitar os seus pedidos e princípios. Como o sr. Bush, eles julgam-se também com um “mandato”, que tem de ser respeitado, em emendas à Constituição e na escolha de juízes para o Supremo Tribunal.

Esses pastores políticos, vêem tudo pelo prisma religioso, e não mencionam sequer o que há a fazer no campo da justiça social, como a instrução, o cuidado das crianças e dos velhos, o seguro de saúde e outras coisas do género. Para eles quase tudo se resume à guerra contra o aborto e os gays.

E os lideres católicos do norte, um pouco mais liberais, e cujo papa é considerado pelos evangélicos, na sua literatura, como o “Anti-Cristo”, o que estão fazendo? Por estranho que pareça, estão copiando a política dos fulanos, sugerindo, nas igrejas, quais os candidatos porque devem votar, e negando até a comunhão ao candidato católico à última eleição presidencial.

Isto nunca se viu nos Estados Unidos, embora a Constituição prescreva a separação da religião e da política, condição que isenta as igrejas do não pagamento de impostos. Mas, como a religião e a política, andam tão baralhadas ultimamente, já tudo é possível.

Como disse numa carta ao editor do “New York Times”, o dr. Lubomir Topaloff, professor no Centro para o Estudo da Democracia, da Northeastern University, a religião, seja ela qual for, é perigosa, quando utilizada para definir a identidade das pessoas.

E compara o que se passa aqui com o que se passa na Europa, “Aqui, a religião está sendo discutida como elemento público da política. Para os europeus, diz a experiência religiosa, é privada e não pode (nem deve, creio eu) servir como base de pública auto-identificação. E isto é o que muitos muçulmanos na Europa, estão tentando alterar”-afirmou.

De acordo com o pensamento liberal, (que o nosso presidente considera abaixo do rabo de cão três graus), religião e politica são, quanto a nós, forças que, separadas, podem dar paz de espírito a todos os que têm fé. Mas misturadas na política, provocam desunião e fanatismo que, mesmo aqui, na terra da liberdade, tem já levado a muitos actos de crime e de terror.

Manuel Calado*

*Jornalista na América


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